Por Giovanni Romão
>>> Aos que colocamos nos poderes de nossa cidade há pouco mais de um ano, um alerta: Movam-se! Criem vergonha em suas caras e olhem pelo município. Sejam homens de verdade e deem a cara pra bater. Enfiem as picuinhas do poder na gaveta de suas mesas e façam a engrenagem andar. No mínimo, olhem por cada um de seus iguais.
Regiane tem dois filhos. É casada. Trabalha. Paga impostos. É uma cidadã brasileira em cartório; um ser humano em sua essência. Cumpre seus deveres e tem seus direitos; o maior deles: viver. Direito pelo qual ela luta desde 16 de outubro.
Foi no bairro Lessa, em Pindamonhangaba, que Regiane foi vítima de tiros – um atingiu seu olho esquerdo. Ela seguiu dirigindo até perder o controle do carro e bater contra uma árvore. No hospital: coma induzido, cirurgia sem sucesso para a retirada da bala alojada em seu cérebro e constatação de perda da visão no olho atingido.
Aos poucos, Regiane tenta reagir. O marido Márcio é quem a acompanha de perto. É quem dá suporte. É quem viu a esposa, uma cidadã e ser humano com direito à vida, dar os primeiros sinais de recuperação após a internação.
Regiane não é apenas mais uma estatística. Não é somente mais um número negativo às contas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SP. Regiane é vítima de uma sociedade esfacelada em seu cotidiano.
Regiane é vítima de um sistema público moroso, que olha segurança por dados estatísticos e não pelas questões básicas de cidadania, como educação e inclusão.
É vítima de um sistema que constrói cadeias e as inaugura como mais um troféu para encher do que chamamos de “marginais”. De um sistema que ergue escolas e pouco se importa com o papel que ela terá na formação de quem por lá passar. E se passar…
É vítima de um poder público local vagaroso, onde há atividade delegada aprovada, que permitiria mais ronda ostensiva, mas que não sai do papel. É vítima de uma classe política porca, fechada em seus problemas, suas picuinhas e seus cumprimentos de favores trocados.
É vítima de seus iguais. É vítima de seus representantes públicos, que por ela deveriam olhar. É vítima de uma sociedade doente.
Regiane não é a única vítima. Mas sua história de vida é única. E foi unicamente transformada.
Aos que colocamos nos poderes de nossa cidade há pouco mais de um ano, um alerta: Movam-se! Criem vergonha em suas caras e olhem pelo município. Sejam homens de verdade e deem a cara pra bater. Enfiem as picuinhas do poder na gaveta de suas mesas e façam a engrenagem andar. No mínimo, olhem por cada um de seus iguais…
E que as histórias de Regianes, Marias, Claras, Josés e Joãos possam ser unicamente diferentes por outros motivos. E bons motivos.